sexta-feira, 22 de junho de 2007

Projecto Mega Rafeirinhos

A história do Projecto Mega Rafeirinhos tem por cenário um bairro social desfavorecido onde as lutas de cães eram o negócio do momento. Nós, técnicos, corremos o risco de entrar no esquema sem pedir licença aos seus "proprietários", e dai surge o projecto.

O projecto designado “Mega-Rafeirinhos” foi desenvolvido num bairro do concelho de Cascais, cenário territorial de permanência de jovens com idades compreendidas entre os 11 e 26 anos, com tendência para a aquisição de cães, com objectivos único de treino e posterior participação em lutas consideradas ilegais, como também eram “instrumentos” intimidativos contra as pessoas e outros animais.
Características como o opulência dos animais, a participação destes em práticas violentas perpetuadas pelos seus donos, a demonstração gratuita de agressividade, a punição, o mau trato revelavam a importância da valorização, reconhecimento e liderança do jovem junto dos seus pares, ainda que conquistada sob o lema da força e à imagem do efeito de modelagem exercido por jovens adultos (19-25 anos) sobre os jovens adolescentes (11 a 16 anos).
A conduta desses jovens revelava, por sua vez, deficientes competências sociais, associadas, consequentemente a dificuldades de relacionamento, também, para com o seu grupo de pares. Dodge (1985) demonstrou que jovens com problemas comportamentais, frequentemente, são mais agressivos, menos empáticos e com maiores dificuldades ao nível do relacionamento interpessoal e resolução de problemas, assim como tendem a percepcionar o seu ambiente como hostil e persecutório. A intenção do projecto era, por si, ser algo de inovador, recorrendo a estratégias assentes em metodologias de intervenção terapêutica definido por “Animal Assisted Therapy”. Inerente à adaptação destas metodologias ao projecto, a intenção fulcral foi inverter a posição social adquirida pelo animal (cão) junto dos jovens e seu grupo de pares, mediante o reforço e a promoção do desenvolvimento de competências de comportamentos positivos e adaptados a regras de convivência social ditas normalizadas.
A utilização de determinadas metodologias, tais como a aplicação de um programa de competências associado a aquisição de conhecimentos de treino de obediência e agility, desenvolvido ao longo de um conjunto de sessões, visaram, também, iniciar um plano de prevenção que permitisse a minimização de abusos sobre os animais cometidos pelos jovens, nomeadamente, a luta de cães. A efectiva monitorização projecto abrangeu um conjunto de acções de natureza diversas, tais como de carácter terapêutico e pedagógico (sessões realizadas com os cães em espaço aberto independente ao contexto de bairro e desenvolvimento de um programa de competências pessoais), social e educativo (demonstração dos conhecimentos adquiridos sobre o treino do animal no bairro onde os jovens residiam dirigidos à população em geral e a outros jovens), saúde e humanitária (regras de segurança e saúde para com o Homem e o Animal), com a inclusão nas actividades de diferentes profissionais, como por exemplo, a participação de um Veterinário e Treinador de Cães (Fernando Silva).
Desta forma, definiu-se como prioritário investir num tipo de intervenção que pudesse alterar os códigos de sobrevivência reforçados pela violência e agressividade, incidindo o projecto num grupo de 6 jovens com idades entre os 9 e 14 anos, e cujos objectivos foram a prevenção secundária de comportamentos de mau trato dos animais e de condutas ilícitas envolvendo os mesmos. As acções propostas incidiram na frequência dos jovens numa escola de ensino dirigido a cães, de forma a promover o contacto dos jovens com novos modelos de comportamento e aquisição de aprendizagens que permitissem a frequência de emoções/interacções positivas, e consequentes melhoramento ao nível das relações interpessoais.
Neste projecto participaram os jovens, os seus cães, maioritariamente SRD (sem raça definida) e os pais dos jovens, na medida em que a intenção dos técnicos também era co-responsabilizar os familiares e envolve-los nalgumas acções, como nos cuidados de alimentação, higiene e saúde dos animais, no reforço das interacções positivas entre os jovens e adultos/jovens e animal. As aulas de treino ocorriam 1x semana na escola de treino Educacão.
Apenas nos podemos referir aos jovens que participaram no projecto, e relativamente a estes, o programa de desenvolvimento de competências pretendia melhorar os seguintes aspectos:
- a comunicação assertiva, ou seja, adequar os sentimentos à forma de expressão utilizada pelos jovens, evitando atitudes que revelavam alguma agressividade e o não saber dizer como se sentiam ou expressar sentimentos de zanga, frustração e até mesmo o estarem contentes era demonstrado com alguma desproporção que muitas vezes era interpretado pelos outros como violento, na medida em que era acompanhado com determinados comportamentos menos aceitáveis;
- reforçar e/ou aumentar a auto estima, mediante a valorização de atitudes e comportamentos apreendidos, através de reforços positivos, do elogio, do incentivo à participação em actividades;
- na promoção de capacidades que consideramos ser importantes para a vida futura destes jovens, como estimular a atenção, a observação, a empatia, a contenção de sentimentos menos positivos, na medida em que na relação com o cão em contexto de treino estas competências estão presentes.
Os resultados do projecto devem ser analisados à luz dos indicadores de avaliação inicialmente definidos. O projecto foi desenhado para um grupo de 6 jovens com idades entre os 9 e 14 anos a realizar-se durante um período de 6 meses. Efectivamente, o projecto iniciou-se com 6 jovens (5 do sexo masculino e 1 do sexo feminino), com o intervalo de idades pretendido e dentro do período previsto. Prevíamos que 80% destes jovens permanecessem até ao final, e efectivamente 3 jovens cumpriram o que lhes tinha sido proposto: ou seja, participaram nas aulas de obediência e agility, cumpriram as regras de cuidados, alimentação e saúde dos seus animais, não participaram em lutas de cães, demonstraram ter desenvolvido competências a nível emocional e comportamental, envolveram-se em actividades extras ao projecto por sua iniciativa própria, como por exemplo, em conjunto com um dos familiares deslocavam-se à escola noutros dias da semana, participavam em actividades de lazer com os seus cães, isto poderá ser aparentemente insignificante, mas estes jovens antes de participarem no projecto não manifestavam qualquer sentimento pelos seus cães, ao ponto de não lhes fazerem qualquer tipo de “festas”(carícias) no animal. Os jovens aumentaram o seu interesse por outras raças, pelo tipo de alimentação mais adequada para os cães, pela aquisição de brinquedos para os cães e divulgaram estes novos conhecimentos pelos amigos, no bairro e na escola.
A nível das competências pessoais, consideramos que estes jovens aprenderam a expressar os seus sentimentos de tristeza, zanga, alegria, e afectos de uma forma mais assertiva. Pelo menos observamos uma diminuição da agressividade na sua forma de comunicação com os adultos e outros jovens, para além de se terem sentido “vaidosos” junto dos seus pares, possibilitando assim o aumento de auto estima.

Para nós, também foi gratificante!

Sandra F

3 comentários:

Van Dog disse...

Boa!!

Van Dog disse...

Olá! Tens uma nomeação - de continuidade opcional - no meu blog...

Cléo disse...

Já vi a nomeação, obrigada!Vou escolher os 7 blogs a nomear, depois coloco.